A internet não é um espaço imparcial. Não significa, também, um local de relações de poder e de diálogo livre de constrangimentos sociais. Também não pode ser analisado como o local de excelência para o crime ou terrorismo. Percepções e interpretações unilineares de um ambiente que é caracterizado pela ação humana não permitem revelar a complexidade dos fenômenos que se constroem a nível social. Os movimentos sociais com uma atividade mais ordenada na internet têm provocado os poderes instituídos, apontando opressões e promovendo lutas, movimentando atores individuais e coletivos, abrindo canais de comunicação e espaços de cidadania. As tecnologias digitais não se restringiram a diminuir os custos das atividades cotidianas dos movimentos sociais, aceitaram, igualmente, a coordenação dessas atividades de um modo mais eficaz e rápido superando os acanhamentos espaciais e temporais no aparelhamento dos protestos globais. Não oponentes todos os limites que conclui, a internet parece ter estimulado a emergência de novas formas, de novas consciências coletivas, de identificações e comunidades que se interconectam a nível transnacional. Estamos em acreditar que a liberdade de expressão, que carecerá ser reivindicada para este espaço interativo, será uma das condições para a construção de uniões a nível global. Mas parece-nos, também, urgente uma reflexão teórica que beneficie a inclusão da articulação dos movimentos sociais, neste novo “espaço publico” e que se interrogue, igualmente, a democraticidade das suas práticas. De advertir, porém, que mesmo ao nível de oposições transnacionais, os movimentos não desampararam as formas de comunicação e participação políticas tradicionais e a internet, ao contrário do que se poderia julgar, não as substituiu nem as desvalorizou. Reforçou, até mesmo, essas remotas práticas dotando-as de uma maior notoriedade. Nessa estimativa, uma ação política de protesto ou resistência, numa escala local, poderá imediatamente, com uma maior facilidade, encontrar novas julgamentos e apoios a nível trans-local.
Para entender os movimentos sociais contemporâneos, nas suas inúmeras dimensões, apela-se tanto a consideração dos seus atos como dos seus pensamentos. Esta interpretação dos movimentos sociais denota também entender os locais de ação e o conflito destes sobre os intérpretes. Isto pode ser analisado, entre outros, por meio dos projetos que os movimentos decretam e do desvendamento destes projetos, do seu debate e construção de alternativas, por meio das tecnologias interativas, nomeadamente, a internet.
Fontes: