domingo, 22 de maio de 2011

A web é feminina

No contexto da questão sobre os movimentos sociais na internet, o campo comunicacional abrange como espaço de luta política, incisivo e não apenas determinante de outras instâncias em que se conclui a dinâmica histórica. As novas tecnologias de comunicação permitem um redimensionamento das maneiras de organização de significativos movimentos sociais como, por exemplo, o feminismo, que nesse contexto é atualizado por uma nova prática denominada como Ciberfeminismo.
   O Ciberfeminismo, desde seu surgimento, atualiza suas semelhanças históricas com outros feminismos. A partir desse conceito, o movimento estuda as possibilidades de novos discursos feministas em redes de comunicação, examinanando como esse movimento se dá, e mais designadamente, como o uso das novas tecnologias de comunicação estabelece essas novas afinidades feministas. Surgindo como uma forma de ativismo digital, o ciberfeminismo, definido como uma prática pós-feminista na rede, é um complexo campo tecnológico e político.

   O Ciberfeminismo teve procedência em inúmeras redes eletrônicas, anteriores à World Wide Web (WWW), como por exemplo, as BBS e Intranets universitárias da Austrália e Alemanha. Outro agente responsável pelo surgimento do Ciberfeminismo é a divulgação do Manifesto Ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX em 1984, escrito pela biológa Donna Haraway. Donna Haraway propõe um rompimento com o marxismo, o feminismo radical e outros movimentos sociais que falharam ao atuar com categorias como classe, raça e gênero. Em relação ao movimento feminista, a crítica de Haraway diz respeito ao modo como ele vem operando com a categoria “mulher” de uma forma naturalizada. Sendo assim, seria necessário rescindir com essa política da identidade e troca-la pelas diferenças e por uma coalizão política baseada na afinidade e não numa identificação concebida como “natural”. O ciborgue seria, assim, o arquétipo, o mito fundador dessa novidade política de identificação construída a partir da semelhança, longe da coerência da assimilação de uma exclusiva identidade. A partir disso dar início as discussões e análises do método de construção desses novos modos de discurso em redes eletrônicas e suas relações com os movimentos de identidade.

   No caso Ciberfeminismo, uma das questões dessa vertente é que a compreensão do espaço da mulher deve ser também percebido no contexto das novas tecnologias, mais especificamente o da Internet. Uma das dificuldades nesse procedimento, sugerido pelas australianas Hawthorne e Klein (1999) e pela americana Faith Wilding (1997), é a de que o Ciberfeminismo ao pretender se alinhar radicalmente às teorias de Haraway, na tentativa de um anulação com o movimento feminista anterior, acabou por recusar sua relação com o passado político do movimento e sua relação com os distintos contextos culturais femininos. Mas ainda que o Ciberfeminismo não tenha as mesmas características políticas de seus antecessores, suas reverberações podem ser entendidas em produções artísticas e na ação ativista de inúmeras coligações e artistas.

   O ciberfeminismo é, sem dúvida, uma esperança na construção de uma nova ideia – examina gênero e identidades. Para a humanidade, a elaboração de um cyborg como propunha Donna Haraway é um dos maiores desafios. A rede é um meio público que tem se qualificado até agora por ser acessível e aberto à pluralidade dos discursos, à multiplicidade. Mas o mundo tecnológico, um mundo não alheio aos outros mundos, lida e sofre as alternativas políticas e sociais. De fato, a tecnologia é somente uma esperança para se olhar para os movimentos sociais e, ao utilizarmos esta lente, devemos pensar em que comedimento as novas tecnologias redimensionam esses movimentos. No caso do feminismo, e mais especificamente do Ciberfeminismo, é preciso termos em conta as distintas camadas e temporalidades que as tecnologias utilizadas por esses movimentos transcorrem. Por esta razão, o ciberfeminismo também deve ser um espaço aberto para a política e o ativismo.

   Embora existam inúmeros conceitos para o Ciberfeminismo, segundo as pesquisadoras Ana Martínez Collado e Ana Navarrete:  O entendemos como uma prática feminista em rede, que tem por intuito, tanto politicamente, quanto esteticamente, a construção de novas ordens e desmontagem de velhos mitos da sociedade através do uso da tecnologia.” A priori, o Ciberfeminismo não é conecto, desde o seu surgimento ele se apresentou de diversas formas e grupos, mas identificamos em sua fórmula alguma coisa que o distingue de outros feminismos anteriores. Enquanto os movimentos feministas dos anos 1960 e 1970 se multiplicaram pelo efeito de sucessivas divergências internas, resultando em grupos que buscavam ações identitárias afins, diferentes grupos ciberfeministas utilizaram a Internet para trocarem experiências, se reunirem e debaterem as relações entre gênero e tecnologia.

   Dessa maneira, este movimento, mesmo com suass variadas alianças identitárias, procurou uma aproximação para trocas e ações de experiências de distintos fundos culturais em conjunto. Muitos dos grupos ciberfeministas usam as tecnologias de comunicação, como a Internet, não só para se organizarem em rede, mas também para construírem novas falas que problematizam as teses de gênero através de afazeres que vão desde a produção audiovisual e experimentos com midiarte até as experiências artístico-ativistas na Internet. Em resumo, o Ciberfeminismo surgiu em um período onde são cada vez mais polifônicas as identidades, as narrativas e até mesmo as próprias tecnologias. No entanto, as potencias como movimento social acarretadas pelo ciberfeminismo ainda são embrionárias no terrítorio brasileiro. O sentido da comunicação e da informação, e consequentemente, sua globalização, instituíram novos âmbitos de ação coletiva que carecem ser, cada vez mais pesquisados, discutidos e divulgados por mulheres, para mulheres, em especial , as brasileiras!


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