quarta-feira, 22 de junho de 2011

Resenha do documentário SURPLUS

Surplus, vídeo documentário sueco de 2003, exibe com bastante criticidade a relação entre a desenfreada sociedade do consumo em que vivemos hoje, e a gradativa destruição do meio ambiente que tal sociedade degringola.
Algumas teorias são explicitadas durante o vídeo, como as ideias do norte-americano John Zerzan que servem para personificar o pensamento neoludita, ou seja, ele acredita que a salvação do planeta encontra-se numa volta no tempo, com o aniquilamento da tecnologia existente hoje, como as indústrias, os artefatos tecnológicos e a ideia do consumo exagerado. Do outro lado da “corda” tem-se Steve Ballmer, atual presidente executivo da Microsoft, que aparece no documentário como um súdito da tecnologia e brada aos quatro ventos: “I love this company!”, falando a respeito da multinacional poderosíssima na qual trabalha.
Trazendo à tona o poder das multinacionais, encontramos no texto “Tecnologias, identidades, alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século” de Jesús Martín-Barbero, o que o autor chama de uma das perversões da comunicação, ou seja, algumas megacorporações globais possuem uma concentração econômica traduzida num poder que funde os veículos e os conteúdos, desenvolvendo a partir disso, o controle da opinião pública e a imposição de moldes estéticos. Percebe-se que quem transmite é quem produz, e, por sua vez, quem produz detém poder de interferir no que sua audiência pode e/ou deve consumir. A real necessidade de um indivíduo se confunde com o desejo de possuir algo, e toda essa confusão se deve, especialmente, a uma gigantesca publicidade que lhe é imposta, a partir da espetacularização da existência humana, e partindo do pressuposto de que o receptor dessas mensagens é completamente passivo e, mais, obediente.
A busca pela felicidade torna-se algo inventado e interligado ao consumir desesperado. O documentário expõe extremos de uma relação com o consumo, de um lado o jovem sueco Svante, que tornou-se milionário com apenas 19 anos, e apesar de poder usufruir de tanto capital, leva uma vida fora do padrão, e busca a simplicidade ao lado dos amigos. Não se pode negligenciar o fato dele parecer ter uma personalidade perturbada por não saber lidar muito bem com todo o seu dinheiro. E do outro lado uma garota cubana criada nos moldes do regime de seu país, que quando vai à Europa encanta-se com o novo, ou seja, comidas diferentes (Mc Donald's em especial), canais de TV aos quais ela não tinha acesso, prateleiras e mais prateleiras recheadas com diferentes produtos, e ainda, diferentes marcas de um mesmo produto. Tudo isso é muito diferente da sua realidade em seu país de origem, de suas raízes, que segundo Barbero, podem ser móveis a partir das migrações e mobilidades, das redes e fluxos, ou seja, novas influências. Seguindo essa linha de raciocínio, a jovem a que nos referimos não deixará de ser cubana se adquirir alguns hábitos da cultura européia, ela estará apenas num processo de transformação da sua identidade pessoal.
O que fica claro para nós é que ambos extremos citados anteriormente são insustentáveis. O 'ter' desenfreado, com inúmeras possibilidades de escolhas ou o 'não ter' opções, a exemplo do creme dental (Perla) cubano, são pólos que não se sustentem, tanto pelo esgotamento dos recursos naturais, quanto pela liberdade cerceada que provoca essa tensão vivida atualmente.
Orosco Gomez no texto “Comunicação social e mudança tecnológica: um cenário de múltiplos desordenamentos.” reconhece que as transformações identitárias vão sendo contruídas de hibridações sedimentadas em representações sobretudo visuais, e a mídia atrelada às novas tecnologias possuem grande participação nessa questão. A audiência é um tema abordado pelo autor, ele afirma que ser audiência modifica o vínculo entre os atores sociais (família, amigos, governo, etc) e as janelas das casas vão sendo suplantadas pelas telas dos televisores, onde a publicidade domina e faz do homem quase um completo refém.
O que está em jogo tanto no vídeo quanto nos textos citados, é o futuro do planeta. Com o aparecimento das novas tecnologias, o poder adquirido pelas pessoas a partir de tal surgimento, com a mudança no papel do emissor e sua localização, ainda assim, é preciso raciocinar sobre para onde estamos indo.

Um comentário:

  1. Baixar o Documentário - Surplus - Aterrorizados Para Sermos Consumidores - http://goo.gl/qJVsN

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